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Dia mais frio da história faz brasilienses viverem inverno antecipado

Em pleno Planalto Central, a cerca de um mês do início oficial do inverno, em 21 de junho, o Distrito Federal registrou o dia mais frio da série histórica, iniciada em 1961. A temperatura chegou, ontem, a 1,4°C, na estação meteorológica do Gama. Até então, o menor registro havia sido em 18 de julho de 1975, quando os termômetros marcaram 1,6°C. A estação de Águas Emendadas, em Planaltina, registrou 3,8°C; no Paranoá, chegou a 4,1°C; e no Sudoeste, ficou em 4,9°C. A friaca fora de época é explicada por uma massa polar de ar frio e seco, vinda da Região Sul. Hoje, o céu terá poucas nuvens, com variação de 6°C a 20°C.

A sensação térmica foi negativa, mas não é possível cravar um número, conforme explica a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Andrea Ramos. “É um conceito relacionado ao vento, então depende da intensidade. Nestes dias, o vento tende a ser moderado”, prevê. Ela destaca a baixa umidade relativa do ar. “Hoje (ontem), foi o ápice da atuação da massa de ar frio e seco. Ontem (quarta-feira), registramos 25%, tendência que continuou a mesma hoje (ontem). A expectativa para amanhã (hoje) é que fique entre 25% e 30%. No sábado, deve variar de 30% a 35%”, estima a meteorologista.

O gramado da área verde entre o Noroeste e a Epia, na Asa Norte, amanheceu congelado. Os brasilienses sentiram o marco histórico do termômetro na pele. Moradora do Gama, Adrielle Dantas, 19 anos, percebeu a temperatura baixa logo ao acordar. “Foi difícil, pois estava um frio que jamais senti aqui, no Gama. Tive de usar duas cobertas, blusa, calça de frio e meia (durante a madrugada)”, relata a empresária, que colocou roupas extras para se manter aquecida, principalmente quando foi trabalhar, de manhã cedo. “Apesar de ter saído de carro, estava extremamente gelado”, conta Adrielle.

Ar polar

Morador do Lago Oeste, José Carlos Ramalho, 62, teve uma noite de sufoco. “Pensei que ia ter um infarto de tanto frio (durante a madrugada). Moro, aqui, no DF desde 1976 e nunca tinha visto nada parecido. Dormi com duas meias, um edredom e dois cobertores”, afirma o publicitário, que usa luvas, cachecol e gorro para se proteger. “Até agora, (por volta das 13h de ontem), o frio está cortante. O sol está aberto mas só ilumina e não esquenta. Parece luz de geladeira”, compara o morador. “Muito café quente ajuda um pouco”, brinca José, que deixou os cachorros dormirem dentro de casa e colocou panos grossos no chão e no sofá para os pets ficarem confortáveis.

A preocupação com os animais de estimação tem sido perceptível durante o período. Proprietário da loja Enxovais Vitória, em Sobradinho 2, Décio de Jesus tem vendido produtos também para os bichinhos. “A procura por cobertores e edredons aumentou cerca de 50%, a partir de segunda-feira. A saída já vinha crescendo desde a semana passada, mas foi intensificada. As pessoas compram para os pets e para doação”, observa. O comerciante se preparou e está com os estoques abastecidos, ainda que as baixas temperaturas tenham vindo mais cedo mais cedo este ano. “As vendas dos itens de frio começam em maio, normalmente, porque as pessoas se preparam antes do inverno. Mas, com certeza, está mais intenso”, completa o Décio, que espera manter as saídas em alta até o fim da semana.

No Atacadão Oliveira, na 510 Sul, o estoque de 5 mil cobertores e edredons esgotou em dois dias, entre terça e quarta-feira. O local tem sido procurado para compra de itens para doação. Vendedor do estabelecimento, Gabriel Oliveira relata que as mantas estão acabando. “Fizemos pedido de mais produtos, mas deve chegar só na próxima quarta-feira. O movimento foi intenso, mesmo, hoje (ontem). Ninguém manda no clima, mas, com as previsões, os clientes tendem a comprar mais, até para doar. Inclusive, 99% das pessoas compra para doação”, avalia Gabriel.

No país

A massa de ar polar não atinge apenas o Distrito Federal. Outras capitais do Brasil tradicionalmente quentes têm registrado temperaturas baixas nos últimos dias. Hoje, a previsão da temperatura mínima para Goiânia é de 7°C; em Campo Grande, os termômetros podem marcar 8°C; e os registros devem chegar a 12°C em Cuiabá. Belo Horizonte seguirá a tendência do DF e deve atingir 6°C.

Fonte: Correio Braziliense

Foto: Ed Alves/CB