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Arsenais nucleares aumentam à medida que crescem preocupações com China e Coreia do Norte

As maiores potências do mundo podem ter prometido trabalhar para um mundo sem armas nucleares, mas os estoques globais devem aumentar na próxima década, de acordo com um novo relatório.

“Há indicações claras de que as reduções que caracterizaram os arsenais nucleares globais desde o fim da Guerra Fria terminaram”, disse o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) em um relatório nesta segunda-feira (13).

O relatório vem em meio a crescentes preocupações ocidentais sobre os esforços da China e da Coreia do Norte para expandir suas capacidades nucleares.

Os Estados Unidos suspeitam que a Coreia do Norte esteja se preparando para realizar seu sétimo teste nuclear em breve, enquanto o ministro da Defesa da China, Wei Fenghe, disse na cúpula do Diálogo Shangri-La no fim de semana que seu país fez “progressos impressionantes” no desenvolvimento de novas armas nucleares.

No entanto, enquanto o Sipri relata que a China está “no meio de uma expansão substancial de seu arsenal de armas nucleares”, deixa claro que a China e a Coreia do Norte não são os únicos.

“Todos os Estados com armas nucleares estão aumentando ou atualizando seus arsenais e a maioria está aprimorando a retórica nuclear e o papel que as armas nucleares desempenham em suas estratégias militares – esta é uma tendência muito preocupante”, disse.

De acordo com as estimativas do Sipri, os Estados Unidos e a Rússia continuam sendo as maiores potências nucleares do mundo, com 3.708 e 4.477 ogivas, respectivamente, enquanto a China tem 350, França 290 e Grã-Bretanha 180. Mas a contagem de ogivas da China aumentou nos últimos anos, de 145 ogivas em 2006, de acordo com o instituto. O Pentágono prevê que o estoque chinês “pelo menos dobre de tamanho” na próxima década.

Embora os estoques dos EUA e da Rússia tenham diminuído em 2021, o Sipri afirma acreditar que uma tendência “alarmante” de longo prazo fará com que os dois países aumentem seus estoques e desenvolvam armas mais poderosas.

O sigilo da Coreia do Norte significa que é difícil avaliar suas habilidades nucleares. Algumas estimativas colocam seu estoque atual em cerca de 20 ogivas nucleares, embora os EUA e outros países acreditem que a Coreia do Norte esteja trabalhando para aumentar esse número e sua capacidade de fornecimento.

Pyongyang realizou um número recorde de lançamentos de mísseis balísticos este ano e no sábado (11) nomeou a principal negociadora nuclear Choe Son Hui como sua primeira ministra das Relações Exteriores.

“A Coreia do Norte continua a priorizar seu programa nuclear militar como elemento central de sua estratégia de segurança nacional”, disse o Sipri, acrescentando que “acredita-se que o estoque de material físsil do país tenha crescido em 2021”.

O think tank, que incluiu números do país em seu relatório anual pela primeira vez este ano, disse acreditar que a Coreia do Norte agora tem material físsil suficiente para produzir até 55 ogivas.

Mas sua capacidade de entregar essas armas permanece desconhecida. Em maio, a Coreia do Norte testou o que parecia ser um míssil balístico intercontinental – embora o alcance da arma ou sua capacidade de lançar uma ogiva nuclear não fossem claros.

“Não há evidências publicamente disponíveis de que a Coreia do Norte tenha produzido uma ogiva nuclear operacional para lançamento de um míssil balístico de alcance intercontinental, mas pode ter um pequeno número de ogivas para mísseis balísticos de médio alcance”, disse o Sipri.

O Sipri também disse que a Índia e o Paquistão estão fazendo esforços para expandir seus arsenais nucleares. O órgão disse que Israel – que não reconhece publicamente possuir armas nucleares – estava tentando modernizar seu arsenal. As estimativas de estoque para a Índia e o Paquistão ficaram em 160 e 165, e para Israel, 90.

Em janeiro, as cinco maiores potências nucleares do mundo – também conhecidas como P5, como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas – se comprometeram a trabalhar juntas para “um mundo sem armas nucleares” em uma rara declaração de unidade.

No entanto, a subsequente invasão da Ucrânia pela Rússia levantou preocupações de que as armas nucleares possam ser usadas fora de uma situação de teste pela primeira vez desde que os EUA bombardearam Hiroshima e Nagasaki em 1945.

Desde o início da guerra, a Rússia tem repetidamente lembrado o mundo de sua força nuclear em referências oblíquas aparentemente destinadas a dissuadir os países ocidentais de uma maior intervenção. O diretor da CIA, William Burns, também alertou que a Rússia pode usar armas nucleares táticas na Ucrânia.

Agora muitas nações – mesmo aquelas sem armas nucleares – estão repensando seus cálculos. Japão, EUA e Coreia do Sul prometeram recentemente fortalecer sua estratégia compartilhada de dissuasão nuclear.

No Diálogo Shangri-La, o ministro da Defesa japonês, Nobuo Kishi, fez comentários extraordinariamente fortes dirigidos à Coreia do Norte e à China.

“O mundo se tornou ainda mais incerto”, disse Kishi na cúpula de defesa da Ásia. “O Japão está cercado por atores que possuem ou estão desenvolvendo armas nucleares e que ignoram abertamente as regras”.

Ele criticou os testes de mísseis da vizinha Coreia do Norte e chamou a China de “uma nação preocupante”, citando as recentes operações militares que realizou com a Rússia em águas próximas ao Japão e Taiwan – as primeiras desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.

“A Ucrânia (hoje) pode ser o Leste da Ásia amanhã”, disse ele.

Falando na mesma cúpula, o ministro da Defesa sul-coreano, Lee Jong-sup, disse que seu país “fortaleceria drasticamente” suas capacidades defensivas em meio a preocupações crescentes com o programa de armas nucleares de Pyongyang.

Vários especialistas apontaram que a invasão da Ucrânia pela Rússia demonstrou o poder da dissuasão nuclear. A Ucrânia é um dos poucos países que voluntariamente desistiu de um arsenal nuclear. Ela o fez após a queda da União Soviética, enviando muitas de suas armas para a Rússia – o mesmo país pelo qual agora está sendo invadido.

“Países que se sentem ameaçados podem olhar para a Ucrânia e perceber que se livrar de [suas] armas nucleares não é o caminho a seguir e isso pode diminuir o incentivo para eles avançarem em direção a um acordo livre nuclear, que se tornará uma tarefa árdua”, disse o especialista em segurança regional Ian Chong, também professor associado de ciência política na Universidade Nacional de Singapura.

Chong disse que havia “um alto nível de preocupação com armas nucleares” no Shangri-La. “Estamos vendo um aumento das tensões que reflete muito as preocupações no Nordeste da Ásia [no momento] no caso de qualquer ataque nuclear”.

Fonte: CNN Brasil