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Parlamento do Sri Lanka elege primeiro-ministro Wickremesinghe como presidente

Os parlamentares do Sri Lanka elegeram nesta quarta-feira (20) o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe como presidente do país do sul.

O movimento do Congresso provavelmente irritará os manifestantes que exigem a remoção de Wickremesinghe do cargo há semanas.

Wickremesinghe — seis vezes ex-primeiro-ministro e aliado-chave do ex-presidente Gotabaya Rajapaksa — ganhou uma votação parlamentar depois que seu antecessor fugiu do país em meio a protestos crescentes desencadeados pela crise econômica que assola o país.

O Sri Lanka está sofrendo com uma terrível escassez de importações essenciais, como combustível, remédios e comida.

O agora ex-premiê recebeu 134 votos de 223 totais.

Dirigindo-se ao Parlamento logo após o resultado, Wickremesinghe disse que, embora o país tenha sido “dividido em linhas partidárias”, “chegou a hora de trabalharmos juntos”.

No início deste mês, manifestantes incendiaram a residência privada do na época primeiro-ministro e invadiram o palácio presidencial em uma tentativa desesperada de derrubar o governo e acabar com o caos que envolve o Sri Lanka desde março.

Os manifestantes pareciam ter obtido uma vitória quando Rajapaksa fugiu e Wickremesinghe prometeu renunciar para abrir caminho para um novo governo de coalização.

Mas a nomeação de Wickremesinghe nesta quarta ameaça inflamar a situação mais uma vez, já que muitos militantes o veem como intrinsecamente ligado ao regime de Rajapaksa.

Até mesmo alguns membros do partido político governista Sri Lanka Podujana Peramuna (SLPP), desaprovam que ele assuma o cargo principal.

Enquanto a votação acontecia, um pequeno grupo de cidadãos se reuniu nos degraus do gabinete do presidente para protestar contra a indicação de Wickremesinghe.

Alguns gritaram “Ranil vá para casa” com raiva quando o resultado foi anunciado.

Muitos manifestantes insistem que apenas uma reforma completa do governo satisfará suas demandas, e alguns prometem que permanecerão nas ruas.

“Vamos continuar e não vamos entregar o gabinete presidencial. Estamos decepcionados com os políticos há 74 anos”, afirmou Dhaniz Ali à CNN.

“Mesmo que eles atirem em nós, haverá outros que continuarão o protesto.”

Vrai Cally Balthazaar disse à CNN que Wickremesinghe “não é o presidente do povo”, acrescentando: “Não vemos Ranil [Wickremesinghe] como sendo diferente de Rajapaksa, é apenas uma extensão dele, o que significa corrupção, nepotismo, racismo e também egoísmo”

A jovem de 25 anos apontou estar desapontada “mas não chocada ao vê-lo vencer”.

“Isso era de se esperar. O mandato do povo não é representado por meio de representantes do povo no parlamento”.

“Não estou surpreso, mas ainda desapontado com o quão corrupto e injusto o sistema é”, desabafou Kasumi Ranasinghe Arachchige, de 26 anos, à Reuters.

“Não vamos recuar, não vamos nos contentar com nada menos”, disse ela. “Vamos lutar pelo que merecemos.”

A vida cotidiana para a maioria dos cingaleses continua sendo difícil.

As ruas da capital comercial de Colombo estão praticamente vazias, com pessoas fazendo filas do lado de fora dos postos de gasolina por horas, esperando desesperadamente para comprar combustível.

Muitas empresas estão fechadas e as prateleiras dos supermercados estão cada vez mais vazias.

Na segunda-feira (18), Wickremesinghe pareceu se distanciar de Rajapaksa, afirmando à CNN que o antigo governo tentou encobrir fatos sobre a crise financeira paralisante do Sri Lanka.

O governo de Rajapaksa não admitiu que o Sri Lanka estava “falido” e “precisava recorrer ao Fundo Monetário Internacional”, contininou Wickremesinghe.

“Gostaria de dizer às pessoas que sei o que estão sofrendo”, acrescentou. “Não precisamos de cinco anos ou 10 anos. Até o final do próximo ano vamos começar a estabilizar, e certamente até 2024 teremos uma economia em funcionamento e que começará a crescer.”

Seu adversário mais próximo na votação de quarta-feira foi o ex-jornalista Dullas Alahapperuma, que recebeu 82 votos, enquanto um terceiro candidato, Anura Kumara Dissanayake, recebeu apenas três.

Todos os olhos estão agora em Wickremesinghe e nas negociações de resgate em andamento com o Fundo Monetário Internacional (FMI), ao mesmo tempo que o presidente tenta lidar com a pior crise econômica que o país viu em sete décadas e manter os protestos sob controle.

Fonte: CNN