Lula Cardoso Ayres (1910-1987) foi um artista com uma sensibilidade única para capturar a cultura e as tradições pernambucanas, documentando a identidade regional com autenticidade. Sua obra, que combina folclore e influências modernistas, é vasta e multifacetada, abrangendo pintura, fotografia, desenho, ilustração, muralismo e cenografia. A trajetória de Lula é celebrada na nova exposição "Caminhos de Ida, Caminhos de Volta", com curadoria de Guilherme Moraes, na Galeria Marco Zero, localizada na Av. Domingos Ferreira, em Boa Viagem.

O talento de Lula emergiu cedo, aos 11 anos, e foi incentivado por sua mãe, Dona Carolina, e seu pai, João Cardoso Ayres. Aos 15 anos, viajou para Paris para estudar e, de volta ao Recife, iniciou sua carreira como assistente do alemão Heinrich Moser e foi aluno de Cândido Portinari. Foi após retornar à capital pernambucana que Lula começou a explorar temas que marcariam sua obra, como manifestações culturais, folguedos e elementos da cultura popular local.

Em 1941, o poeta Ascenso Ferreira destacou, no Diario de Pernambuco, o talento de Lula, descrevendo-o como um artista que capturava a essência do Nordeste e suas expressões culturais, não apenas reproduzindo figuras típicas, mas revelando um profundo entendimento artístico delas.

A exposição "Caminhos de Ida, Caminhos de Volta" apresenta cerca de 60 obras, que vão desde desenhos da década de 1940 até a fase abstracionista dos anos 1950, período influenciado pelas primeiras Bienais de São Paulo. O curador Guilherme Moraes escolheu explorar a diversidade do artista, destacando a convergência entre suas diferentes fases como ponto central da mostra.

Entre as obras expostas, há uma peça inacabada que Lula começou após retornar à figuração, mas não conseguiu concluir antes de sua morte. Segundo o curador, essa obra inacabada reflete uma trajetória artística que foi interrompida pela morte, e sua inclusão na exposição ilustra a dedicação contínua de Lula à arte ao longo de sua vida.

Lula Cardoso Ayres é reconhecido internacionalmente por suas telas e murais, sendo um pioneiro na programação visual de Pernambuco. No entanto, Guilherme Moraes ressalta que, apesar de sua importância, o trabalho de Lula ainda carece de maior valorização e reconhecimento no cenário das artes visuais. Grande parte de seu acervo está preservado no Instituto Cultural Lula Cardoso Ayres, em Jaboatão dos Guararapes.

Redação ANH/PE