/EXCLUSIVO: MOTOBOY FAZ DENÚNCIA CONTRA RESTAURANTES QUE NÃO PERMITEM QUE A CATEGORIA USE BANHEIROS: DISCRIMINAÇÃO OU FALTA DE HUMANISMO.

EXCLUSIVO: MOTOBOY FAZ DENÚNCIA CONTRA RESTAURANTES QUE NÃO PERMITEM QUE A CATEGORIA USE BANHEIROS: DISCRIMINAÇÃO OU FALTA DE HUMANISMO.

Yan Santos, motoboy. Imagem: Arquivo pessoal, gentilmente cedida para esta reportagem.

O Portal ANH Notícias entrevistou, com exclusividade, o Motoboy Yan Santos, que trabalha fazendo entrega para restaurantes, através do App Ifood, na cidade de São Paulo. Ele gravou um vídeo denunciando a falta de empatia de vários restaurantes que não permitem que os profissionais de entrega utilizem os banheiros do local.

O vídeo, que chegou há mais de 1 milhão de visualizações em sua página no instagram, repercutiu, e centenas de pessoas ficaram indignadas por saber como os profissionais de entrega são tratados na cidade de São Paulo. Em contrapartida, muita gente justificou que a atitude dos restaurantes é válida, pois existem pessoas que urinam no chão, defecam fora do vaso e etc

ANH: Yan, a que você atribui a atitude das empresas em negar o acesso dos motoboys ao banheiro? Você acredita que exista preconceito de classe?

Yan Santos: “Eu fico indignado com essa situação, porque a gente é motoboy de aplicativo, não somos fixos com o restaurante, mas a partir do momento que o cliente faz uma compra com o App, ele gasta com o App, já estamos gerando dinheiro para o restaurante, entendeu? E a partir do momento que o pedido é feito, e ele demora meia hora ou mais para ficar pronto, às vezes você precisa ir ao banheiro , ou mesmo beber um copo d’água, e os restaurantes na maioria das vezes não liberam nosso acesso.

Em relação a água, às vezes quando liberam, chegam a servir água de torneira, com gosto ruim. Tem colegas que passam mal”.

ANH: O que você achou da repercussão do seu vídeo?

Yan Santos: “Eu fiz esse vídeo para mostrar a minha indignação, com toda educação possível, para mostrar o que a gente sofre no dia a dia fazendo entregas. Acredito que qualquer pessoa, não apenas os motoboys, não merecem passar por isso. É uma sensação de humilhação e desprezo. E apesar deles alegarem que os motoboys sujam o banheiro, a gente sabe que a maioria de nós, tem consciência e educação”.

O vídeo bateu 1 milhão de visualizações e isso me deixou feliz, pois as pessoas precisam ver a realidade dos motoboys, até porque essa realidade não acontece apenas em São Paulo, isso acontece em todo o Brasil.

ANH: Qual a sua sensação como profissional e como ser humano, ao ser tratado dessa forma pelas empresas?

Yan Santos: “Eu fico indignado com essa situação, pois eu sinto que a gente não é valorizado, mesmo prestando um serviço essencial, correndo todos os riscos do dia a dia, e uma coisa tão mínima que é a utilização de um banheiro se torna um bicho de sete cabeças.

A gente trabalha na rua, e todos nós sabemos a dificuldade que é encontrar um banheiro público, por isso eu afirmo que essa atitude é uma falta de respeito com a classe dos motoboys. Isso é uma prova de preconceito contra a nossa classe, mas eu acho que isso não deveria ser feito com nenhuma profissão, porque negar um banheiro a quem está precisando, é desumano”.

ANH: Quem você identifica como culpado por este mal?

Yan Santos: “Eu acho que a culpa é tanto do restaurante quanto do próprio Ifood, porque eles também não tem um espaço para nós. Tipo um ponto de apoio, que poderia evitar esse tipo de embate. Ou então o Ifood deveria entrar em consenso com os restaurantes para que o acesso da gente fosse liberado nos banheiros. 

O que diz a Lei?

Não permitir o acesso de qualquer um do povo ao banheiro do estabelecimento comercial, seja ele restaurante ou afins, pode gerar processo por dano moral, pois fere princípios dos direitos humanos, além de que, isto pode se caracterizar como uma discriminação social, de acordo com a Lei nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989.

O caso de Yan, como ele bem disse, representa um desalento cenário de exclusão, falta de empatia e segregação social, ao qual os brasileiros estão habituados desde sempre. Isto repercute de maneira rápida graças a agilidade das redes sociais, mas na prática, nada é feito para mudar essa situação lastimável ao qual essa classe tão sofrida, formada por homens e mulheres que vão à luta para sobreviver.

Gabriel Maia, ANH/Redação.