Os religiosos da casa candomblé Ilé N’ifé Omo Posú Betá, que representa a tradição ancestral das matrizes africanas em Alagoas, e tem como Sacerdotisa – Iyá Binan, a Mãe Mirian Araújo, uma das mais respeitáveis damas e exemplo de força, dedicação e fé, foram vítimas de mais um lamentável episódio de intolerância religiosa, dentro do Mercado do artesanato, em Jaraguá, Maceió.
De acordo com o relato de Patrícia Correia, Ekédi de Oxóssi, e que faz parte da tradicional casa, o grupo estava fazendo o Ritual Sagbejé, que é realizado a muitos anos pelo grupo, que saem todas as segundas feiras para fazer uma peregrinação com um balaio de Bessen e o tabuleiro de Omolu.
Patrícia explica que o ritual não consiste na venda de produtos, e sim, em fazer pedidos de cura ao Senhor da Terra, que é Omolu, e a Bessen, que é a prosperidade e a saúde. O grupo então para em alguns pontos estratégicos da cidade com o balaio de frutas, como por exemplo na praia de Pajuçara.
No dia do lamentável fato, o grupo saiu no sentido do bairro Jaraguá, e decidiu entrar dentro do Mercado Público de Jaraguá. Patrícia afirma que o grupo foi bem recebido pelos dois seguranças do local, mas, pouco tempo depois, foram abordados por uma mulher que questionou a presença dos religiosos no local, afirmando que aquele é um local privado, e que o grupo precisava se retirar imediatamente. A mulher chegou a chamar os dois seguranças que estavam bastante solícitos com o grupo na entrada, mas por estar cumprindo ordens, precisou acompanhá-los até a saída do local.
A AFA – Associação Brasileira de Preservação da Cultura Ameríndia, orienta que irmãos e irmãs que praticam o Ritual Sagbejé, e forem vítimas de qualquer tipo de intolerância religiosa, devem procurar imediatamente às autoridades e reportar a situação, adotando outras medidas específicas no sentido de coibir e denunciar publicamente tais atos criminosos.
Em um vídeo que circula nas redes sociais, e que foi gravado pelos membros do grupo, eles denunciam o fato lamentável e constrangedor pelo qual tiveram que passar, e revelam a sua total indignação com a situação.
O Portal ANH Notícias, em nome do bom senso e da respeitabilidade que deve sempre permear a nossa sociedade, informa que todos os grupos religiosos existentes no Brasil, especialmente as religiões de matrizes africanas, tem a sua liberdade de culto e ritual preservada pela Constituição Federal de 1988, que além das garantias legais, protege a liberdade de crença individual e coletiva.
Ações como esta, vivida pelo povo de axé, especialmente pelos membros da Casa de Mãe Mirian, merecem o nosso total repúdio. Jamais iremos compactuar com qualquer tipo de falta de respeito e intolerância religiosa, e pedimos celeridade aos órgãos do judiciário, especialmente ao Ministério Público, no sentido de coibir e punir com todo rigor da Lei, quaisquer tipo de intolerância e discriminação religiosa.
A todos os nossos irmãos das matrizes africanas, os nossos sinceros respeitos e solidariedade sempre. Axé, Saravá e muita luz para todos.
Por: Gabriel Maia, ANH/Redação.